segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Paulistano de corpo, caipira de alma...

"De que me adianta viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar?"
Pois é, a cidade grande, selva de pedra como muitos dizem, ás vezes desumana, ás vezes solidária que abriga tudo e todos de todos os lugares. Cidade onde eu nasci e onde me criei respirando esses ares poluídos, ouvindo o barulho das sirenes que ferem por vezes os meus tímpanos.

Confesso meus amigos, a felicidade muitas vezes não me acompanha neste mar de edifícios, mas a vida tem que continuar mesmo que aos trancos e barrancos e procuro tocar ela da melhor maneira possível. Vejo ás vezes as madrugadas de céu estrelado, não com bons olhos por causa da violência, mas ouço a passarada quando ela começa a cantar anunciando a alvorada, um canto curto, por vezes triste. Com um certo temor, subo no meu carro e vou para o meu trabalho. Gostaria mesmo era de arrear um burrão e sair pelos campos a galopar, escutando o gado berrando e o sabiá cantando no Jequitibá, mas meu cavalo é de aço e o que ouço e vejo são roncos de motores e até capivaras que sobrevivem não se sabe como nas águas poluídas do Rio Tietê. Sabiá canta sim num pé de Ipê amarelo que tenho no fundo do meu quintal, mas não é o mesmo canto do sabiá que se ouve no interior de São Paulo, infelizmente.

Ás vezes gostaria de ter nascido neste belo interior paulista, em uma fazenda ou até mesmo em uma tapera, que me desse á oportunidade de levar uma vida mais saudável, onde eu pudesse plantar o que fosse comer, onde me sentisse á vontade e totalmente integrado a essa natureza tão exuberante que se vê nos campos dessa São Paulo interiorana, mas sou da “capitár” e não tenho como me mudar de casa e de vida para onde gostaria. Minhas idas ao interior são esporádicas. O contato com essa gente tão bonita de sotaque carregado (que muitas vezes é alvo de expressões e piadas pejorativas) e também essa deliciosa música regional caipira que ouço agora no rádio de meu carro com muito carinho, me fazem crer que nasci no lugar errado.
Minha paixão pela cidade grande de há muito perdeu o encanto e por outro lado, o amor que sinto pelas coisas do interior só tem aumentado. Como uno o Rock com a música caipira? Como amo a guitarra de igual para igual com a viola caipira? É a minha veia urbana onde corre um sangue caipira, herança talvez de outras vidas, quem sabe? Mas esse pinho, que faz chorar essas cordas num dedilhar que encanta até músicos estrangeiros de gabarito é a mesma que ouço neste momento e confesso, se alguém está chorando agora com o rádio ligado, este alguém sou eu...

Da saudade imensa, do campo e do mato, do manso regato que corta as Campinas, paisagens que vi muitas vezes em muitas das viagens que fiz. Hoje a vida atribulada da cidade não tem me permitido mais essas viagens e não posso mais desfrutar por hora das festanças do interior, com danças tópicas e lindas meninas. Sinto-me contrariado com isso, mas não derrotado, pois sou bem guiado pelas mãos Divinas, mas já disse a minha mãezinha tantas vezes da minha tristeza aqui na cidade grande e de não ter nascido no campo como gostaria. Adoraria um dia me ver de partida numa madrugada, pra essa terra tão querida do interior que não me viu nascer. Partir e trafegar por uma estrada de terra, ouvindo o galo cantando e Inhambu piando no escurecer com uma bela lua prateada clareando essa estrada de chão, que traz ás margens uma relva molhada desde o anoitecer. Adoraria ir, ver tudo ali e fixar minha morada, não foi lá que nasci, mas é lá que gostaria de morrer, pois sou um paulistano de corpo e um caipira de alma...


Essa prosa/crônica, usa como fonte de inspiração e trechos da letra da canção "Saudades da minha terra" de Belmonte e Goiás, na minha opinião, a mais linda música caipira de todos os tempos.

Zé Roberto

4 comentários:

Moniquinha disse...

Ah meu querido, que dizer? Apesar de ser bem urbana, tenho minhas raízes no campo, e orgulho-me disso. E sinto pela falta que faz a vida saudável e livre às nossas crianças hoje.
Belo texto, belas inspirações...essa canção é lindíssima, me emociono sempre que ouço. Me traz muitas lembranças.
beijos meu lindo!

Marô disse...

Zé: que belezura...Você é muito especial...

Abraço

Unknown disse...

Que maravilha Zé!
Amei! Parabéns!!!

Anônimo disse...

Zé Roberto meu querido estou com saudade de ver sua cara. Sempre lá centro cultural vergueiro
divulgando os artistas genuinamente brasileiros. Lembra sou poeta bispo. vamos marcar uma ponta qualquer dia para botar as conversas em dia. Esse seu texto li e gostei é seu estilo bicho.
Um abraço poetico

Feliz novo ano!

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