segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Polaridade
Foto: Índio
Somos mais do que um,
Somos meio.
Meio bons, meio maus,
Meio alegres, meio tristes.
E nessa divisão
Tentamos nos compor.
E nessa absurda matemática
Que o Universo nos fala
E que o Homem não entende
Vamos nos multiplicando,
Divididos,
Buscando ser inteiros.
Por isso tenho em mim
Um pouco da alma
De cada ser humano.
Por isso minha vida oscila
Entre o que sou
E o que também sou
Mas não estou.
Por isso tenho cara de russa
Mas a alma tropical.
E amo do mesmo modo
Os campos da Provença
E as montanhas de Aiuruoca.
Por isso olho o lindo mar de meu país
Mas penso que estou de costas para o mar de Neruda
Tão belo quanto este
(e que eu também queria ver neste momento).
E sou um dos Doze Cavaleiros,
E morri na fogueira da Inquisição,
E algumas pedras da Grande Muralha
Estão lá por minhas mãos.
Já pisei na Lua, sofri por amor, escrevi poesia.
Já tomei veneno, lutei em revoluções, chorei de alegria.
Fui açoitado e vi meu filho morrer de fome.
Já odiei um ditador
E já fui um ditador.
E são esses fragmentos acumulados,
Esses seres uns aos outros costurados
Que me compõem.
Helenice Priedols
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4 comentários:
Nossa, Helenice! Que poema imenso, intenso... maravilhoso.
Uma viagem no tempo, na história,
ao redor e dentro de cada um.
Lindo mesmo. Amei.
Que poema tremendo...Fragmentos que se juntam e se repartem...somos parte e somos o todo...Polaridade...bipolaridade...Dualidade...
lindo!!!
E estamos todos no mesmo barco, amigas. Agradecida.
PAZ e LUZ
Nesta imensidão de fragmentos ...
percebe-se uma composição maravilhosa
e deliciosamente bela!
Parabéns... Helenice!
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